Cliticização do item -mente no português do século XVIII

Autores

DOI:

https://doi.org/10.18364/rc.2023n64.1046

Palavras-chave:

item -mente, português do século XVIII, advérbios, cliticização, gramaticalização

Resumo

O item -mente, do lat. mens, mentis ‘espírito, alma’, participa da formação de advérbios na grande maioria das línguas românicas. No português setecentista escrito no Brasil, apresenta-se ligado graficamente ao substantivo anterior a ele sob três formas: com um espaço em branco, com um hífen ou sem espaço algum. Assim, testa-se a hipótese de que esse item estaria com sua clitização finalizada já no século XVIII, utilizando-se como corpus estatutos e compromissos de irmandades e termos de devassa do estado de Minas Gerais, Brasil. Para tal, é preciso utilizarse do arcabaouço teórico-metodológico não apenas da cliticização, mas também da gramaticalização. Conclui-se que, no português do século XVIII, o -mente estava no fim de seu processo de cliticização, mas que esse processo ainda estava em curso, devido ao número pequeno, mas ainda existente, de advérbios em que há separação gráfica entre o item, analisado com um afixo, e o substantivo ao qual está relacionado.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Alexia Teles Duchowny, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Doutora em Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (2007), com estágio na Hebrew University of Jerusalem; Mestre em Letras - Linguística pela Universidade Federal de Minas Gerais (2000); Licenciada em Letras - Francês pela Universidade Federal de Minas Gerais (1996). Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Linguística, atuando, principalmente, nas áreas de Linguística histórica, Filologia românica, Paleografia e Crítica textual. Professora associada da área de Estudos diacrônicos da Faculdade de Letras da UFMG.

Júlia Maria Couto da Costa, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Graduanda em Letras português/francês (licenciatura) na Universidade Federal de Minas Gerais.

Referências

ALMEIDA, V.; CARVALHO, M.; SILVA, J. Advérbio em -mente: processo morfológico concluído ou em andamento? Revista de Letras, v. 1, n. 2, ano 1, nov. 2008. p. 34-47. Disponível em: < https://portalrevistas.ucb.br/index.php/ RL/article/view/947>. Acesso em: 19 set. 2020.

BASÍLIO, M. Morfológica e castilhamente: um estudo das construções X-mente no português do Brasil. D.E.L.T.A., v. 14, n. 3, p. 15-25, 1998. Disponível em:

<https://revistas.pucsp.br/index.php/delta/article/view/43389/28849>. Acesso em: 31 jan. 2022.

BECHARA, E. Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna, 2001.

BYBEE, J. Mechanisms of change in grammaticization: the role of frequency. In JOSEPH, B.; JANDA, R. D. (Eds.). The handbook of historical linguistics. Oxford: Blackwell, 2003.

CAMPOS, J. L. A origem latina dos advérbios em -mente: um processo de gramaticalização. Guavira Letras. v. 13, n. 1, p. 109-123, 2011. Disponível em:

<http://websensors.net.br/seer/index.php/guavira/article/view/189>. Acesso em: 19 set. 2020.

CASTILHO, A. et al. O advérbio. In: CASTILHO, A. (Coord.). Palavras de classe aberta. São Paulo: Contexto, 2014. p. 267-309.

COHEN, M. A. A. de M. Reexame de um caso clássico à luz de novos dados: a gramaticalização e reanálise de mente. In: VITRAL, L.; COELHO, S. (Orgs.). Estudos de processos de gramaticalização em português. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p. 57-74.

CUNHA, C.; CINTRA, L. Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.

DUCHOWNY, A. T. et alii. De Magia (Ms. Laud Or. 282, Bodleyan Library): edição e glossário. São Paulo: NEHiLP/FFLCH/USP, 2014. 447 p. Disponível em: <http://www.usp.br/nehilp/arquivosdonehilp/NEHiLP_5.pdf>. Acesso em: 31 jan. 2022.

DUCHOWNY, A. T.; COELHO, S. M. Edição semidiplomática e fac-similar de documentos adamantinos setecentistas. 2 v. Belo Horizonte: Labed/Fale/ UFMG, 2013.

FONTES, S. Ordenação dos advérbios em -mente na Gazeta de Lisboa (séculos 18 e 19). Revista da Anpoll, n. 39, p. 141-153, jul./ago. 2015. Disponível em:

<https://revistadaanpoll.emnuvens.com.br/revista/article/view/913>. Acesso em: 4 out. 2020.

GERLACH, B. Clitics between Syntax and Lexicon. Linguistik Aktuell/ Linguistics Today, v. 51. Amsterdam: John Bejamins, 2002.

GONÇALVES, S.; LIMA-HERNANDES, M. C.; CASSEB-GALVÃO, V.

Introdução à gramaticalização. São Paulo: Parábola, 2007.

GONDIM, E. M. O grau de composicionalidade dos advérbios em -mente. Cadernos de pós-graduação em letras (Mackenzie). v. 15, n. 1, p. 175-187, 2015. Disponível em: < http://editorarevistas.mackenzie.br/index.php/cpgl/ article/view/9424>. Acesso em: 31 jan. 2022.

HOLANDA, Aurelio Buarque de. Dicionário iaulete. São Paulo: Lexikon, s/d. Disponível em: <https://www.aulete.com.br/>. Acesso em: 26 abr. 2021.

HOPPER, P.; TRAUGOTT, E. C. Grammaticalization. Cambridge: CUP, 1993.

LOPES, C. R. dos S. A persistência e a decategorização nos processos de gramaticalização. In: VITRAL, L.; COELHO, S. M. (Orgs.). Estudos de processos de gramaticalização em português. Campinas: Mercado de Letras, 2010. p. 275-314.

MARTELOTTA, M. E. Ordenação dos advérbios qualitativos em -mente no português escrito no Brasil nos séculos XVIII e XIX. Gragoatá, Niterói, n. 21, p. 11-26, 2006. Disponível em: < https://periodicos.uff.br/gragoata/article/

view/33211>. Acesso em: 5 out. 2020.

MARTELOTTA, M. E.; VICEK, N. Advérbios qualitativos em -mente em cartas de jornais do século XIX. Linguística, Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 5-21, junho de 2006. Disponível em: <https://revistas.ufrj.br/index.php/rl/ article/viewFile/4379/3151>. Acesso em: 20 jun. 2021.

MATTHEWS, P. The concise Oxford dictionary of linguistics. Oxford: OUP, 1997.

MAURER, T. Gramática do latim vulgar. Rio de Janeiro: Academia, 1959.

NASCIMENTO, I. B. do. “‘Cê’ nu tá se cliticizando?” Processos de cliticização e mudança linguística no PB. Anais - VI Congresso Internacional da Abralin. João Pessoa: Ideia, 2009. p. 1911-1919. Disponível em: . Acesso em: 22 jan. 2022.

NEVES, M. H. de M. Gramática de usos do português. São Paulo: Editora da UNESP, 2011.

NÜBLING, D. Klitika im Deutschen. Schriftsprache, Umgangssprache, alemannische Dialekte. Tübingen: Gunter Narr, 1992 (apud GERLACH, B. Clitics between Syntax and Lexicon. Linguistik Aktuell/Linguistics Today, v. 51. Amsterdam: John Bejamins, 2002).

RIO-TORTO, G. Formação de advérbios em -mente. In: RIO-TORTO et al. Gramática Derivacional do Português. 2. ed. Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2016. p. 391-409. Disponível em: < https:// bibliotecadigital.ipb.pt/bitstream/10198/13485/3/Gram%c3%a1tica%20 Derivacional.pdf>. Acesso em: 5 out. 2020.

SILVA, T. C. Dicionário de fonética e fonologia. São Paulo: Contexto, 2011.

TRAUGOTT, E. Constructions in Grammaticalization. In: JOSEPH, B.; JANDA, R. (Orgs.). The Handbook of Historical Linguistics. Malden, MA: Blackwell, 2003. p. 624-647.

VIGÁRIO, M. Cliticização no português europeu: uma operação pós- lexical. Universidade do Minho, Actas do XIV encontro nacional da APL, v. 2, 1998, p. 577-598. Disponível em: <https://apl.pt/wp-content/

uploads/2017/12/1998-43.pdf>. Acesso em: 30 nov. 2021.

VITRAL, L. A interpolação de SE e suas consequências para a teoria da cliticização. In VITRAL, L.; RAMOS, J. (Orgs.). Gramaticalização: uma abordagem formal. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2006. p. 89-118.

Downloads

Publicado

17.02.2023

Edição

Seção

Artigos